Neco Vieira - Homo Sapiens

 

São mil artifícios
Fazendo-se o ócio,
São ossos do ofício
São vícios no ópio,
São cartas marcadas
E brigas infindas
São vidas castradas
Por guerras vencidas,
São presidiários
Diariamente
Enchendo diários
Com toda essa gente
Seus nomes ocultos
São santos tão cultos
Cultivando mundos
Mundanos, imundos,
São foras da lei
Leiloados, impuros
São putos, são brutos
São quem eu não sei,
São encruzilhadas
No meio da vida
No meio da estrada
São cartas perdidas,
São mitos urbanos
São seres humanos
São manos maduros
Por ritos e danos,
São mil artifícios
Fazendo-se o ócio,
São ossos do ofício
São vícios no ópio,
São guerras travadas
Geladas, findadas
São aeronaves
Imitando aves
São tantas perguntas
Pra poucas respostas
São muitos dilemas
Pra poucos problemas
São todas as cores
São todas as dores
De todas as coisas:
São todas as coisas.
É tudo, são todos, são todos os bens
É tudo, são todos, são todos também
São homens.