Nenito Sarturi - Quando a Esperança Faz Fiador

 

Quando o sol, no poente encarnado,
Já se enfurna pra banda oriental
Dando rédeas ao baio encerado
Também eu vou ?mermando?, afinal.
Nesse instante de encanto e magia,
Em que a mente galopa pras timbas
É que a tropa das melancolias
Vem beber no cristal das cacimbas.

São duzentas cabeças de gado
Que tranqueiam pelo corredor,
Vou na ?ponta? co?a fé no costado
E a esperança fazendo fiador.
São seis léguas do itu à estância,
São seis homens afeitos à lida,
São seis almas vencendo distâncias
E as agruras nos bretes da vida!

Êra boi... Êra boi...
Da culatra se ouve o apelo,
Da vanguarda o mugir do sinuelo,
Os resmungos são do capataz!
Êra boi... Êra boi...
Logo após o repecho distante
A pousada é refúgio, lá adiante,
Que a saudade atropela de atrás!

Que será que o compadre ponciano
Vem pensando no ?coice? da tropa?
Imagino que o negro laureano
Vem no flanco contando lorota.
Os peões vêm guapeando nos bastos
Mas o gado já sente o mormaço,
É melhor ?largá os bicho? no pasto
E, na sanga, abrandar o cansaço.

É no tranco da lerda boiada
Que o tropeiro rumina seus planos
De largar desse ?ofício da estrada?
E arranchar-se no ?povo? pra o ano.
É no largo assobio do campeiro
Que as tristezas se perdem, ao léu,
É em sonhos que viaja o tropeiro,
Sob a aba do vasto chapéu.