Nenito Sarturi - Chasque de Delegado

 

Tropeiro amigo do pago,
Que chegaste, certo dia,
Na minha delegacia
Pra ?entregá? teu ?revorvinho?,
Querendo ?andá? direitinho,
Cumprindo a legislação,
Que te impõe a obrigação
De ?andá? sem arma e sozinho.

Eu sei que este teu ?revorve?,
Meu caro amigo tropeiro,
Já enfrentou desordeiro
E levou-o ao desatino.
Por força de seu destino
Pôs ladrão em alvoroço
E sempre roncou bem grosso
Para espantar os ?ladino?.

Escuta, tropeiro amigo,
Tu sabes, eu também sei:
Delegado não faz lei
Mas é dela cumpridor.
Não é prevaricador
E segue a orientação,
Sangrando seu coração
De tanta tristeza e dor.

Eu gostaria somente
De desarmar o bandido
Que hoje em dia é protegido
Por nossas leis criminais.
São monstros e anormais
Que semeiam dor e morte
E que carregam sem porte
Verdadeiros arsenais.

Tirar o teu revorvinho
Nunca foi o meu intento
- Sou dos quase cem por cento
Que renegam esse tributo.
Se precisar visto luto,
Mostrando indignação,
Mas é minha obrigação
Cumprir o tal ?estatuto?.

O delegado é amigo,
Diuturnamente trabalha,
Alguma vez até falha,
Porque errar é humano.
Mas eu contigo me irmano
- O que não é fato novo:
A lei que desarma o povo
É um lamentável engano.

Por isso peço, tropeiro,
Reclama pro deputado
Porque o ?pobre? delegado
Não é culpado de nada.
Eis que a lei foi aprovada
No poder legislativo
E pelo executivo
Tinha sido encaminhada.

Eu sei que tu me compreendes
- Velho tropeiro e amigo -
Tu podes contar comigo
E não te dá por vencido:
Como armar-se é proibido,
Só falta um dia, o estado,
?Desarmá? o delegado
E ?dá? porte pro bandido.