Marcos Nunes e Fabiano - Lamento do Caboclo

 

Por um trilho estreito, entre samambaias
De chapéu de palha eu ia pra mina
Enchi o corote com a canequinha
De água fresquinha limpa e cristalina
Depois me assentava no barranco ao lado
Entusiasmado eu ficava olhando
A queda da aguá rodando muinho
E no ribeirãozinho o monjolo malhando
À tarde eu deixava o monjolo parado
E o arroz socado eu levava pra janta
Corria na venda comprava envelope
Voltava a galope num cavalo pampa
Tomava um triguenho jantava bastante
Achava importante escrever pros parentes
Contando que a roça estava limpinha
E que ninguém tinha ficado doente

Mas minha pobreza foi contaminando
Aos poucos tirando essa felicidade
Embora a roça fosse um berço sagrado
Vi-me obrigado a mudar pra cidade
Passei a comer só arroz em pacote
Troquei o corote por um filtro esmaltado
Nem carta escrevo, pois vivo sozinho
Só vejo o moinho no supermercado
Se vejo o monjolo movido a motores
Só em casa de flores vejo samambaia
Mas fico orgulhoso por ver margaridas
Limpando avenidas de chapéu de palha
A grande saudade eu trago guardada
Será revelada se um dia eu voltar
Então eu pedirei o perdão ao presente
Para eternamente na roça eu ficar